sábado, 19 de maio de 2012

Razões estratégicas


O campeonato mundial de xadrez, celebrado na cidade de Moscou entre o campeão Viswanathan Anand e o seu desafiante Boris Gelfand, chegado à metade das partidas previstas, se mostra equilibrado. Seis jogos, seis empates. Com excepção do terceiro deles, onde as brancas (levadas nesse caso por Anand) chegaram a ter uma vantagem evidente no pré-final, nas outras o mesmo cenário aconteceu: as brancas tiveram uma iniciativa de abertura (lembram dos tempos nos quais se falava da tradicional vantagem de abertura das brancas?) que, no entanto, nunca chegou ser suficiente para alcançar uma vantagem que permita ao menos sonhar com o ponto. Pode ser um bom resumo o efetuado por Gelfand após um desses jogos: "Eu não podia siquer imaginar como ameaçar a criação de uma ameaça nessa posição".
Como acontece nestes casos (ainda longe da cadeia de empates de, por exemplo, o primeiro match Karpov - Kasparov), a sucessão de empates trouxe vozes discordantes, sendo a mais estridente a do ex campeão mundial Garri Kasparov, que ontem afirmou que o match não era interessante e que Anand tinha perdido a motivação. O interesse, claro, é de acordo ao olhar de cada um. Outro ex campeão mundial, Tigran Petrosian, tinha uma frase famosa para o caso: "Eu posso ser mais interessante... e também perder!"
Evidentemente, tanto Anand quanto Gelfand têm as suas razões estratégicas para manter a luta neste estado. Em definitiva, o importante no match é ganhar sumando mais pontos que o adversário no correr dos doze jogos, e a vitória por um ponto envolve o mesmo que outra mais ampla. Parece que ambos os grandes mestres elaboraram uma política -por razões que devem ter analisado durante os meses prévios com profundidade- de risco zero, visando a exploração das vantagens que a abertura de brancas possa outorgar e a conjuração de qualquer atividade adversária quando estão do lado preto do tabuleiro.
Os nossos protagonistas acreditam que essa é a melhor estrategia considerando o momento, a circunstância e o adversário. Não parece lógico comparar o segundo elemento com o do match amistoso Kramnik - Aronian como o faz Kasparov. A motivação e os premios são muito diferentes. Também não parece útil compararao nível possível dos participantes deste encontro -com base nos jogos- com o de jogadores com alto elo como Aronian ou Carlsen -como também sinala Kasparov-. Para saber que podem fazer estes mestres no lugar de Gelfand, legítimo vencedor do último candidatura, ou Anand, legítimo e exclusivo campeão do mundo, há uma maneira de averigua-lo: vencer o próximo candidatura. Depois, se um jogo é mais ou menos aberto ou interessante desde o ponto de vista do público, pode ser conversa fiada ou questão de estilo.

Um comentário:

  1. Prezados,

    O que me entristece nesse contexto é a perda qualitativa de interesse geral que percebo na importância do metch pelo título mundial de xadrez.

    Se o xadrez top seguir nesse modorrento desenrolar de partidas totalmente sem criatividade, sem brilho, que motivação ter em jogar-se xadrez....

    Comparem (quem tiver vivido os dois matches) Fischer - Spassky e este agora.....

    Prá ser sincero, nem acompanho ao vivo, tal a apatia que percebo no atual match. Nada na mídia em geral também.

    Muito triste perceber isso.


    MF Mascarenhas

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